domingo, 13 de fevereiro de 2011

Revista VEJA

Edição 2192 - 24 de novembro de 2010

Só faltava ele

Depois de trinta anos sem circular no Brasil, o quarto tipo de vírus da dengue, o DENV-4, ressurge e faz prever um verão ainda pior

Adriana Dias Lopes

O próximo verão deverá ser um dos mais quentes e úmidos dos últimos trinta anos. Estima-se que, na Região Sudeste, as temperaturas poderão manter-se acima dos 32 graus. E, no Nordeste, na casa dos 36. As previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já bastariam para alarmar os médicos: calor e chuva formam a combinação perfeita para a proliferação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Outro fator, contudo, poderá piorar esse cenário — a entrada em circulação de um novo tipo do vírus da dengue, o DENV-4. É a segunda vez que ele aparece no Brasil, desde a década de 80. De agosto para cá, o DENV-4 contaminou dez pessoas e, até a semana passada, havia nove casos suspeitos sendo analisados. Embora, por enquanto, as infecções se restrinjam à Região Norte, os especialistas acreditam que elas se alastrarão. “Todas as versões do vírus da dengue, incluindo o tipo 4, devem fazer 1 milhão de doentes em 2010”, diz o infectologista Artur Timerman. Ou seja, 500 000 a mais do que em 2009. A saúde pública, de fato, nunca foi tão boa neste país.

Uma pessoa que já tenha entrado em contato com um dos outros três tipos do vírus da dengue e que agora venha a ser infectada pelo DENV-4 se torna dez vezes mais suscetível a desenvolver a dengue hemorrágica. Nessa que é a forma mais devastadora da doença, os vasos sanguíneos inflamam e, permeáveis além da conta, causam hemorragia. Em 10% dos casos, os pacientes morrem. Já na versão mais branda, a dengue clássica, os sintomas se caracterizam por febre acima de 39 graus, dor de cabeça e na região dos olhos e manchas na pele.

Não importam suas diferenças e efeitos, os vírus da dengue enganam com facilidade o sistema imunológico. Isso porque, num organismo que foi contaminado anteriormente, quando a infecção é por outro tipo de vírus, as células de defesa acham que se trata do mesmo micróbio e baixam a guarda. A dengue é nefasta também por causa da incrível capacidade de adaptação de seu vetor, o Aedes aegypti. Originário da África, o mosquito acabou por criar mecanismos de resistência que o levam a suportar ambientes urbanos dos mais díspares. Seus ovos sobrevivem até dois anos no frio e no seco — o dobro de tempo em relação aos dos Aedes aegypti que vivem nas florestas africanas. Além disso, suas larvas nascem em quantidades mínimas de água — o suficiente para encher uma tampinha de garrafa. O verão vai ser muito quente, como nunca antes neste país.

PERGUNTAS

1. Quias os principais sintomas de uma pessoa com dengue clássica? 2. Por que o sistema imunológico de uma pessoa que já contraiu dengue é facilmente enganado? 3. De onde veio o mosquito Aedes aegypti? 4. Uma pessoa infectada pode passar a doença para outra? justifique. 5. Todo mundo que é picado pelo mosquito Aedes aegypti fica doente? justifique.